
Por Verônica Portugal
Que a economia mundial está passando por momentos desafiadores, você já sabe. Mas como isso muda a relação das pessoas com o dinheiro, com o que elas compram e deixam de comprar, e como elas encaram o presente e o futuro? É nessas perguntas que estamos mais interessados. O dinheiro é como uma carta curinga num jogo de tabuleiro que você pode usar agora, ou guardar para depois. E as decisões que se toma com essa carta dizem muito sobre o indivíduo e o nosso tempo.
Nas redes sociais, e sobretudo no Tiktok, que se tornou essa grande sopa de comportamentos emergentes nos últimos anos, muitas hashtags e trends de conteúdo estão surgindo tendo no dinheiro o assunto do centro. Uma dessas tags é a #paydayroutine, que está sendo usada pelos usuários para falar abertamente como administram seus salários, incluindo despesas básicas, investimentos e mimos.
Não é só na gringa. Aqui no Brasil, você deve ter visto a trend do #CLTpremium que bombou há um tempo. O que também está bombando no Tiktok são os desafios para guardar dinheiro, como o Desafio de 250 dias ou de 52 semanas, trazendo até uma ideia de gamificação para o ato de poupar.

Em tempos de instabilidade econômica, de repente, falar abertamente sobre dinheiro é uma forma inteligente de descobrir como usá-lo melhor, e também, uma forma de encontrar uma turma de assalariados como você e eu, que estão passando pelos mesmos desafios para conquistar e guardar mais dinheiro.
Com tanto conteúdo disponível, é possível encontrar não apenas a pessoa milionária que está investindo, mas encontrar também alguém com uma realidade e salário iguais aos seus, que tem dicas de ouro para te ajudar na missão de fazer o dinheiro render, ou que também está tentando descobrir como fazer tudo caber no salário.

De repente, falar de dinheiro não precisa mais ser motivo de vergonha, mas de compartilhamento e identificação. No Brasil, um país historicamente cheio de tabus e receios para falar sobre dinheiro, essas novas discussões nas redes sociais podem estar impulsionando uma mudança de atitude.
A “viralização” do poupar, ou melhor, a simples tentativa de navegar e sobreviver em meio às incertezas econômicas, vai muito além de um conteúdo nas redes sociais. Ela também está impulsionando mudanças no comportamento de consumo.
A cultura do “little treat”, ou do mimo no melhor do português, é um reflexo disso. Diante do aumento da inflação e da diminuição do poder de compra, pessoas estão adotando a ideia de “se mimar” em pequenas coisas: Esse mês não vai dar para comprar o tênis caro que estava de olho, mas posso comprar uma meia ou um boné da marca. Não vou conseguir ir naquele restaurante chique que estão falando, mas posso comprar ingredientes bons para cozinhar em casa numa sexta-feira.
Muitas marcas estão explorando essa oportunidade, investindo em produtos baratinhos, que atendem ao desejo de “fazer parte do clubinho”, mas gastando pouco.

A ideia do consumo como uma forma de autocuidado e auto-recompensa, no melhor do famoso “eu mereço”, não é nova (e sem freio, também pode ser uma ameaça às finanças). Porém, se recompensar nos pequeno$ prazere$ que o dinheiro pode proporcionar, é uma mudança que reflete tanto a percepção do achatamento econômico quanto uma consciência mais forte sobre o poder de compra e a importância de equilibrar o comprar e o poupar.
E ao contrário do que se propaga em muitos lugares, os mais jovens querem sim guardar dinheiro. Uma pesquisa do Datafolha de 2025 mostrou que 57% dos jovens entre 16 e 34 anos têm sim planos para comprar a casa própria. E sim, boa parte desses jovens está vendo na ideia de economizar uma possível forma de viabilizar a realização de seus sonhos financeiros.
Uma pesquisa do Serasa mostrou que a Geração Z domina no público que está buscando limpar o nome, representando 49% nas negociações de dívidas. Em tempos de altos endividamentos, consumo acelerado e prazer instantâneo, uma boa parte do público jovem trabalhador está tentando parar, olhar com calma e se planejar o amanhã. Você também está?