01 de dezembro

Envelhecer

No One

Estamos preparados para viver e projetar para uma sociedade mais longeva e menos orientada à juventude?

A sociedade ama a juventude. Mas cada vez mais, precisamos discutir o envelhecimento. A expectativa de vida tem aumentado no mundo inteiro - no Brasil, passou de 66,8 anos em 2000 para 76,8 em 2025. E a tendência é que aumente ainda mais.

Isso não diz respeito apenas a quem vai viver mais e aos seus familiares, como também modifica totalmente a pirâmide etária da sociedade. Até 2031, que já está logo ali, haverá mais idosos do que crianças no Brasil, um marco que mexe bastante com a estrutura social.

Não é por acaso que no último domingo esse foi o tema da redação do Enem. A prova discutiu “Perspectivas acerca do envelhecimento na população brasileira", convidando os estudantes, em sua maioria mais jovens, a refletirem sobre o envelhecer.

Por que isso nos chamou atenção?  

O envelhecimento populacional é uma mega-tendência global que já estamos de olho há muito tempo. Mas ver que o assunto foi pauta no Enem demonstra que o tema está cada vez mais quente na sociedade.

O assunto anda de mãos dadas com outras tantas questões essenciais, como o acesso à saúde global, a reorganização na estrutura das famílias e o papel do cuidado nas relações sociais, as mudanças no mercado de trabalho e a queda da natalidade. Mas esses podem ser papos para outras Bites. O que mais nos chamou atenção, do nosso ponto de vista, são as reorganizações que o envelhecimento populacional traz para a nossa área de atuação, para a nossa forma de pesquisar e desenhar soluções.  

É irônico notar que de um lado, acompanhamos a pirâmide etária se inverter em velocidade ultra acelerada, mas de outro, ainda vemos o etarismo prevalecer no mercado de trabalho e nas relações mercadológicas, e o culto à juventude crescer e ganhar uma tração ainda mais forte com as redes sociais. Estamos vivendo mais e convivendo por mais décadas com a velhice, mas ainda valorizamos a juventude acima de tudo.

E o consumo nisso tudo?

Do ponto de vista do mercado de consumer intelligence, nossa área de especialidade, sabemos que grande parte das pesquisas de comportamento e inteligência do consumidor visam o público mais jovem como alvo de observação. E, de fato, os jovens são usuários extremos de grande importância.

Ainda enxergamos os jovens como o grande oráculo dos comportamentos emergentes, como se as novidades nascessem apenas ali. Será mesmo? Por aqui, no nosso dia a dia de pesquisa, conversando e observando de perto os usuários, não foram raras as vezes em que detectamos sinais e novos comportamentos vindos de pessoas mais velhas.

Se os jovens foram há poucas décadas o público consumidor mais desejado e visado, isso começa a mudar a partir do momento que as pessoas vivem mais. Conforme as pessoas vivem mais, mais tempo elas têm para consumir. O consumidor 40+ ou 60+ é um público cada vez mais vasto, que tem necessidades cada vez mais específicas (e muitas vezes, mal atendidas pelos concorrentes). E o mercado precisa olhar para este consumidor - não apenas por uma questão básica de inclusão de todos os públicos, como também por uma questão estratégica e de sobrevivência.  

Além disso, o envelhecimento populacional aliado a novas tecnologias e um olhar de saúde e bem-estar desafia a própria forma como o mercado enxerga a velhice e os idosos, usualmente vistos como consumidores com menos autonomia, poder de escolha ou maturidade digital. Os boomers e millennials também estão envelhecendo e já chegam à essa idade com realidades totalmente diferentes daquelas que tinham os nossos avós. Desmistificar os estereótipos de velhice é essencial.

As nossas ideias sobre envelhecer estão ficando velhas. Como apontou o National Geographic, o envelhecimento não precisa representar declínio. Uma ação da operadora de saúde MedSênior representou bem isso. A campanha propôs um convite para rever a forma como representamos a velhice, a partir da reimaginação dos ícones de 60+, que costumavam representar idosos curvados e usando bengalas.

Conversar, entender e projetar para as pessoas mais velhas é relevante e urgente. A "economia da longevidade" diz respeito não só à longevidade dos indivíduos, mas também, dos próprios negócios. Estamos preparados para viver e projetar para uma sociedade mais longeva e menos orientada à juventude?

Até a próxima mordida. 🫦

Por Veronica Portugal

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